Em que pessoa escrever um conto? Descubra o melhor ponto de vista para sua história
Você já teve uma ideia incrível para um conto, mas travou na hora de começar porque não sabia se devia escrever em primeira pessoa, terceira pessoa… ou até mesmo segunda pessoa? Se isso já aconteceu com você, saiba que esse dilema é mais comum do que parece — e escolher a pessoa certa para narrar o seu conto faz toda a diferença na emoção, no envolvimento e no impacto que sua história vai causar no leitor.
O que é “pessoa” na narrativa de um conto?
Em termos simples, é o ponto de vista do narrador — ou seja, quem está contando a história. Existem três possibilidades principais:
- 1ª pessoa – quem vive ou viveu a história.
- 2ª pessoa – quem está sendo diretamente interpelado na história.
- 3ª pessoa – quem observa a história de fora.
Cada uma oferece uma experiência diferente para o leitor e impõe limites ou liberdades ao autor.
Primeira pessoa: emoção e proximidade com o leitor
A narrativa em primeira pessoa usa pronomes como “eu”, “meu”, “nós”. O personagem vive a história e a conta diretamente ao leitor.
Exemplo:
“Eu nunca pensei que aquela noite mudaria minha vida. Mas bastou um olhar para tudo sair do lugar.”
Vantagens:
- Proximidade emocional com o leitor.
- Narrativa subjetiva e intensa.
- Ideal para histórias com foco em transformação pessoal.
Desvantagens:
- Limitação ao ponto de vista do personagem.
- Risco de o leitor perder o interesse se o narrador não for cativante.
Quando usar?
Quando quiser explorar emoções profundas ou criar uma narrativa íntima, com a voz única do personagem.
Terceira pessoa: liberdade e visão ampla
A narrativa em terceira pessoa usa pronomes como “ele”, “ela”, “eles”. O narrador observa os personagens de fora. Existem três variações:
1. Narrador observador (ou objetivo)
“Marcos entrou no quarto, fechou a porta e se sentou na cama. Olhou fixamente para o chão.”
Vantagens:
- Imparcialidade e objetividade.
- Espaço para interpretação do leitor.
Desvantagens:
- Pode parecer impessoal.
- Mais difícil de transmitir sentimentos com profundidade.
2. Narrador onisciente
“Marcos entrou no quarto tentando esconder a culpa. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que contar tudo a Clara.”
Vantagens:
- Explora pensamentos e sentimentos de todos os personagens.
- Liberdade para mudar de cena e foco narrativo.
Desvantagens:
- Risco de confundir o leitor se mudar de foco abruptamente.
- Pode parecer distante ou impessoal.
3. Narrador onisciente seletivo (ou limitado)
“Marcos entrou no quarto e sentiu o peso da mentira em seus ombros. Será que Clara perceberia o nervosismo em seus olhos?”
Vantagens:
- Equilíbrio entre emoção e descrição.
- Permite imersão sem usar “eu”.
Desvantagens:
- Limitação a um ponto de vista de cada vez.
- Exige cuidado na mudança de foco narrativo.
Segunda pessoa: uma experiência imersiva e ousada
Na segunda pessoa, o narrador fala com o leitor diretamente, como se ele fosse o protagonista.
Exemplo:
“Você acorda com o barulho do alarme. Ainda é cedo, mas sente que algo estranho está para acontecer.”
Vantagens:
- Cria uma experiência de leitura imersiva.
- Originalidade e impacto imediato.
Desvantagens:
- Difícil de sustentar por muito tempo.
- Pode parecer artificial se mal executado.
Quando usar?
Em contos experimentais, interativos ou com foco no envolvimento direto do leitor.
Como escolher a melhor pessoa para o seu conto?
Para tomar essa decisão, leve em conta:
1. O tipo de história que você quer contar
Histórias íntimas combinam mais com a primeira pessoa. Já histórias com vários personagens ou eventos amplos funcionam melhor na terceira pessoa.
2. O efeito que você quer causar no leitor
Quer proximidade? Use a 1ª pessoa. Quer objetividade? A 3ª pessoa pode ser melhor. Quer ousar? Tente a 2ª pessoa.
3. A voz narrativa do personagem
Se o personagem tem uma voz forte e envolvente, deixe que ele mesmo conte a história.
Comparando na prática
Veja o mesmo trecho em diferentes pessoas narrativas:
Primeira pessoa:
“Eu caminhei pela floresta, tentando ignorar o frio na espinha. Algo me observava, eu podia sentir.”
Terceira pessoa (onisciente seletiva):
“Ela caminhava pela floresta, sentindo o frio subir pela espinha. Tinha certeza de que não estava sozinha.”
Segunda pessoa:
“Você caminha pela floresta, e o frio na espinha não mente: há algo te observando.”
Conclusão: a pessoa certa transforma o seu conto
Escolher a pessoa narrativa certa é uma das decisões mais importantes para um escritor. Ela define a voz, o tom e o vínculo emocional entre o texto e o leitor.
Não tenha medo de experimentar! Escreva o mesmo parágrafo em diferentes pontos de vista e sinta o que funciona melhor para a sua história.
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