Desde tempos remotos, o tema do lobisomem transcende a mera história de terror. Primordialmente, ele reflete a dualidade inerente à natureza humana, a constante luta entre a civilização e os impulsos mais primitivos que residem em nosso interior. Nesse sentido, Ivy Jones, uma das personagens centrais de Lua Cheia, resume essa ideia de forma marcante ao afirmar que “a besta que nos habita é apenas um reflexo de nossos próprios demônios internos”.
De fato, a figura do lobisomem personifica essa dualidade de maneira visceral. Por um lado, temos o ser humano, com sua racionalidade, moral e civilidade. Por outro lado, temos a besta, que emerge sob a luz da lua cheia, liberando os instintos mais selvagens e incontroláveis. Essa transformação, que ocorre de forma cíclica e inevitável, representa a fragilidade da nossa fachada civilizada e a força poderosa dos nossos desejos reprimidos.
Ademais, a psicologia junguiana nos oferece uma perspectiva interessante sobre o lobisomem como símbolo do “lado sombra” da personalidade humana. Segundo Jung, todos nós carregamos dentro de nós um lado obscuro, reprimido e instintivo, que ele chamou de “sombra”. Essa sombra, que geralmente negamos ou projetamos nos outros, pode se manifestar de formas diversas, e a transformação em lobisomem pode ser vista como uma metáfora para a erupção dessa sombra, que assume o controle da nossa consciência.
Outrossim, a figura do lobisomem também pode ser interpretada como uma representação da nossa luta contra nossos próprios demônios internos. Em outras palavras, a besta que nos habita pode ser vista como uma metáfora para nossos medos, inseguranças, raiva e outros sentimentos negativos que lutamos para controlar. Assim, a história do lobisomem nos convida a confrontar nossa própria sombra, a reconhecer e integrar nossos aspectos mais obscuros, em vez de negá-los ou reprimi-los.
Em suma, o tema do lobisomem é muito mais do que uma simples história de terror. Em verdade, ele nos leva a refletir sobre a complexidade da natureza humana, a dualidade entre o bem e o mal, a civilização e a barbárie, a luz e a sombra. Portanto, ao explorar essa temática, tanto na literatura quanto no cinema, somos convidados a mergulhar em nosso próprio interior, a confrontar nossos demônios e a buscar a integração de todas as partes de nós mesmos.